Dario Neto é candidato ao conselho estadual LGBT de Sao Paulo e realizamos essa entrevista para que os LGBT possam conhecer um pouco mais sobre ele.
Dário Neto é bacharel em Letras - Português pela USP, mestre em Literatura Brasileira pela
USP e doutorando em Literatura Brasileira na USP. Militante desde 1998, ele começou a militar no movimento negro, migrou para o movimento estudantil e,
nele, começou a participar das discussões de gênero e militância feminista para
que, em 2002, se fixasse de vez no movimento LGBT onde continua até o presente
momento. Já foi representante discente no Conselho Universitário da USP e em
vários outros conselhos e comissões desta universidade. Foi membro do Conselho
Municipal de Atenção à Diversidade Sexual de 2008 a 2012, sendo presidente
deste conselho no último ano. Também é diácono da Igreja da Comunidade
Metropolitana de São Paulo.
A votação será realizada dia 29 de junho, na Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania, Páteo do Colégio, 148/184, de 9 hs as 19hs. O eleitores devem levar RG e Comprovante de Endereço no nome da pessoa votante.
Qual é a função da pessoa que ocupa
a vaga de conselheiro estadual LGBT de São Paulo ? O cargo é ocupado por quanto
tempo ?
R:
O cargo é ocupado por dois anos, sendo permitido uma única recondução. A função
de um representante da sociedade civil é fazer o que se define pelo movimento
como controle social, isto é, acompanhar as deliberações tiradas nas duas
conferências estaduais, cobrar o poder público para que elabore e execute as
propostas, denunciar situações de homofobia, sobretudo, quando a mesma tem
participação de algum setor do Estado; auxiliar por meio de estudos, projetos e
discussões a execução dessas ações. Obviamente, tais funções aqui estão
sintetizadas, mas a leitora e o leitor poderão ver mais detalhes em http://www.justica.sp.gov.br/eleicaolgbt/downloads/Decreto%2058.527.2012.pdf
Sendo eleito, quais seriam suas
prioridades dentro do conselho ?
R:
Acredito que devemos propor ações de trabalhos voltados aos segmentos mais
vulneráveis, isto é, as mulheres lésbicas e mulheres travestis e transexuais e
homens trans, devido não apenas à lesbofobia e transfobia, mas ao fato de que
na cultura de exclusão de nossa sociedade, esses segmentos são os mais
atingidos, sobretudo pelo machismo. Além desses setores, precisamos ter atenção
especial para a população com deficiência física, para a comunidade LGBT de
surdos, para a população negra LGBT. Também devemos propor ações de
descentralização das políticas públicas voltadas para a população LGBT que hoje
existem na capital, fazendo com que essas políticas possam ser acessadas pela
periferia, como também por outras cidades tanto na região metropolitana, quanto
no interior de São Paulo. É recorrente a exigência dos movimentos mais
afastados da capital de que essas políticas possam ser disponibilizadas à
população LGBT dessas cidades. Obviamente, essas ações devem ser feitas
concomitantes com as ações na capital também. Enfim, a minha prioridade no
Conselho é ser voz dos setores sociais mais alijados das políticas públicas.
Para tanto, pretendo, com meus eleitores e com as demais pessoas interessadas,
manter um diálogo contínuo de repasse tanto do que se discute no Conselho como receber
deles e levar ao Conselho demandas que a população LGBT necessite que sejam
encaminhadas ao poder público.
Quais seriam seus desejos mais
ousados para realizar dentro do conselho ?
R:
Duas coisas são fundamentais para que um Conselho possa funcionar: a
participação efetiva de seus conselheiros nas reuniões e nas ações do Conselho
e o frequente diálogo com o poder público sobre as demandas já levantadas e a
serem levantadas pela sociedade civil. Nesse sentido, meu desejo será o de
garantir o funcionamento ativo e participativo dos seus membros - parece óbvio
isso, mas não necessariamente. Meu tempo de experiências em Conselhos e
Comissões tem mostrado que a eleição da sociedade civil e a indicação dos
representantes do poder público não é sinônimo de participação. É comum que ao
longo do período ele se esvazie e, para isso, precisa de pressão, pois um
Conselho esvaziado torna-se inócuo. O diálogo é outro problema também, pois a
sociedade civil tem concepções distintas do poder público e, como é recente o
exercício de participação da população no governo, é comum que, em alguns temas,
sejamos ignorados ou mesmo silenciados. Entendo o diálogo como o movimento de
argumentar e ouvir argumentos, mas, na prática, nem sempre funciona. Em
Conselhos que já participei, aprendi que devemos negociar constantemente, ter
maturidade para, se tivermos que abrir mão de alguma coisa, que seja sempre com
o aval da sociedade civil e nunca, nunca negociar direitos humanos
fundamentais.
Sendo eleito, quais serão as
maiores dificuldades que você acha que irá enfrentar como conselheiro estadual
LGBT ?
R:
A maior dificuldade em um conselho é o exercício do diálogo, pois não temos
esta cultura. Penso que um Conselho, para ser propositivo e ter o seu sentido
de funcionamento garantido, ele não pode se transformar nem em um palco de
egos, nem em um palco de guerra. Isso eu me refiro tanto à sociedade civil
quanto ao poder público ali representado. Esta cultura de participação é nova
em nosso país e, por isso, ela é sempre um desafio. Por isso, acredito, pela
minha experiência, que a grande dificuldade será o de garantir a constância e a
cultura do diálogo.
Como você acha que se poderia
atrair mais pessoas para a militância em todo País?
R:
Acredito que o papel do Conselho é fazer fluir as informações. Estamos tratando
da coisa pública, logo, tudo o que for debatido e feito neste espaço deve
chegar ao conhecimento da população, sobretudo a população LGBT. Desse modo, a
melhor forma de atrair pessoas para a militância é participá-la de tudo o que é
feito e debatido no Conselho. É preciso entender que o Conselho não substitui o
movimento social. O papel do Conselho é ficar de vigília enquanto o movimento
está em refluxo, mas quando, por algum motivo, esse movimento toma as ruas e
questiona o governo no qual o Conselho está ligado, os representantes da
sociedade civil não pode inibir do forma alguma o movimento. Pode sim, muni-lo
de informações ou, quando convocado, ser voz dessa demanda social naquele
espaço, mas nunca, nunca, nunca querer reprimi-lo em nome de uma eleição. Outra
coisa é entender que o conselheiro não está lá para representar apenas seus
eleitores ou um grupo específico da sociedade, mas a população LGBT como um
todo.
A bancada evangélica a cada eleição
se torna maior. Faltaria então uma
integração dos grupos LGBT de todo Brasil para eleger políticos em favor da
causa LGBT ?
R:
O crescimento da bancada evangélica, na minha concepção, tem que ver com as
disputas eleitoreiras dos grandes partidos. À medida em que partido A e B usam
de qualquer subterfúgio para derrotar seu oponente, acaba por fazer alianças
com setores mais conservadores e retrógrados que já mancharam a história
política do nosso país. Outro problema tem que ver com a necessidade de se
fazer uma reforma política no país, pois o modelo atual de eleição que temos
permite que o processo eleitoral seja feito de modo mais desonesto e pouco
participativo. Quanto aos grupos LGBT, não acho que seja por falta de união -
pensar que unir todo o segmento LGBT em nome de um candidato é de uma visão
acrítica e perigosa, pois iremos fazer essa união a partir de quais critérios?
em qual contexto? e a partir de quais forças? A causa LGBT é um tema
transversal que se mistura com outros temas como a educação, saúde, cultura,
trabalho, moradia, questões urbanas, rurais entre outros tantos temas. Nesse
sentido, nossa luta tem de ser por uma Reforma Política de fato.
Esse momento onde o Brasil
mostra-se mais interessado pela política deve ser aproveitado pelos grupos LGBT
do Brasil ?
R:
Sem dúvida. E, obviamente, os grupos LGBT estão aproveitando bem. Infelizmente
o projeto nominado "cura gay" foi aprovado na Comissão de Direitos Humanos
e Minorias que hoje está tomada por aqueles que querem impedir os nossos
direitos, mas o lado positivo disso é que aconteceu neste momento de
efervescência política. Tem ocorrido inúmeras mobilizações em todo o Brasil
contra esse projeto. Aqui em São Paulo, alguns dias após a aprovação, mais de
dez mil pessoas foram às ruas repudiá-lo. Agora, eu também acredito que a pauta
dos Direitos Humanos, da luta por justiça social tem de ser - e tem sido - do
movimento LGBT também, pois somos parte dessa sociedade e lutar pela redução da
passagem, bandeira inicial dessa efervescência, também tem e foi a nossa luta.
Desde os primeiros atos, quando essa movimentação era tratada de modo negativa
pela imprensa, a bandeira LGBT balançou nessas multidões que tomaram as ruas.
São Paulo possui uma das maiores
paradas do mundo, ou a maior, mas além de visibilidade que outros benefícios
ela poderia e/ou deveria trazer para os LGBT ?
R:
Não acho que seja só a visibilidade que a Parada deu a nós. A visibilidade foi
o seu melhor efeito, mas a partir dessa visibilidade, outros benefícios foram
alcançados. A Parada deu um gás novo para o movimento LGBT, pautou a mídia e
levou o debate para as instâncias políticas do país. Também levou a discussão
para a educação, para a saúde além da temática de DST/AIDS, para a cultura
principalmente. Agora, uma grande contribuição que a Parada dá para a população
LGBT é na esfera individual. Ela é o ponto canalizador da emancipação da
consciência de culpa e de medo para um estado de alegria e de felicidade. Veja:
basta que cada um lembre da primeira vez que esteve na Parada, foi algo mágico,
emancipador, transformador. Por isso ela tem esse caráter de celebração, de
festa. Alguém que chega nela preso pelos grilhões do moralismo e da homofobia sente-se
tomado por um choque de liberdade, de pertencimento, pois abandona a
consciência do eu culpado, para a consciência de um nós liberto. Você olha para
aquela grande multidão e fala: porra! eu
não estou só no mundo. A Parada tem o efeito de aniquilar nesse indivíduo a
noção de anormalidade imposta pela sociedade. Ao ver aquela magia tomando a
avenida, você se encontra. É como a história do patinho feio que descobre ao
encontrar seus iguais que ele não é feio, porque ele não é um patinho, mas um
cisne e, diferentemente dos seus irmãos que o rejeitaram, descobre que sabe
voar. A Parada é esse momento. E isso não é pouco: é o que eu poderia chamar de
uma verdadeira cura gay. Obviamente, em sentido oposto ao do projeto, é cura
porque você deixa de se ver como feio, doente, anormal, e entende que a sua
lógica de estar no mundo é completamente outra, isto é, completamente
diferente, (nem melhor, nem pior) da lógica daqueles que, durante anos da sua
vida, te chamaram de feio. Por fim, é preciso que entendam: a Parada é apenas
uma das ações possíveis do movimento LGBT (e quando digo movimento, não me
refiro a grupos hegemônicos, nem institucionais, mas em sentido amplo da
palavra) e por isso não é ela quem vai trazer todos os benefícios, existem
inúmeras outras formas e uma delas é o Conselho.
Os fundamentalistas são os maiores
adversários políticos dos LGBT. Atualmente estamos lutando com as “armas”
corretas contra esse movimento que segue crescendo ?
R:
Na política, você não consegue precisar o que é ou o que não é correto antes de
fazer. Só é possível avaliar depois de feito. O que é possível se fazer é
avaliar ações passadas tanto no Brasil como em outros países, se aproprias das
experiências de outros movimentos sociais e tentar se antecipar, sabendo que o adversário
domina o jogo político e vai responder. A mobilização de rua geralmente surte
efeito quando bem organizada, isto é, convocada amplamente, com um foco bem
definido, com uma boa logística e com uma grande participação da população LGBT
e de heterossexuais que são contrários à homofobia. Agora, tenho acompanhado
debates feitos com esses fundamentalistas e percebo que a ausência de
conhecimento é grande em muitos de nossos debatedores. Penso que seja preciso
empoderar teólogos e teólogas inclusivas, isto é, que não fazem uma leitura
distorcida do texto bíblico e que estão afinadas com o discurso do movimento
social. Hoje, no Brasil temos a Igreja da Comunidade Metropolitana, cuja
liderança vem dos movimentos sociais e tem propriedade teológica para refutar
esses fundamentalistas. Não que o debate tenha de ser de cunho religioso,
obviamente, mas quando se tem propriedade do assunto, consegue minar essas
argumentações rapidamente, pois o lado de lá, teologicamente, fala muita
bobagem.
Que mensagem você deixaria para
todos para finalizar ?
R:
Primeiro, agradecer às pessoas que leram até aqui. Dizer que o Conselho não é
solução pra nada, assim como nada é solução pra nada. Isto é, todas essas
possibilidades (e o Conselho é uma delas) são instrumentos que podem responder
nossas demandas de modo positivo, basta que as ocupemos, basta que participemos
seja na rua, seja no voto, seja por meio de contribuições textuais, fazendo
espalhar as informações para o máximo de gente possível. Quero pedir para as
pessoas que são da grande São Paulo um voto de confiança em mim, indo no dia 29
de junho, na Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania, Páteo do Colégio,
148/184, votarem em mim para que eu possa estar neste Conselho. Devem levar RG
e Comprovante de Endereço no nome da pessoa votante. E não apenas isso:
disponho o meu contato no facebook (https://www.facebook.com/dario.neto.585),
podem me adicionar (peço apenas que avisem que leram o texto para que eu saiba que
não alguém que queira apenas adicionar por questões meramente quantitativas),
sintam-se à vontade para conversarem comigo, questionarem, perguntarem,
discordarem, enfim, dialogarem sobre o assunto. Pois, pretendo estar neste
Conselho respaldado pela população LGBT (a principal beneficiada). É um
trabalho voluntário, portanto, o meu ganho material é ter cada vez mais nossos
direitos conquistados e saber futuramente que, por causa dele, LGBT passaram a
ter uma vida mais digna. Este é o meu ganho. Deixo aqui o link do material da
minha campanha (https://www.facebook.com/photo.php?fbid=579668912055845&set=a.575769909112412.1073741827.100000382258188&type=1&theater¬if_t=like)
das manifestações de apoio que recebi (https://www.facebook.com/media/set/?set=a.575769909112412.1073741827.100000382258188&type=3&uploaded=1)
o vídeo de apoio do Deputado Federal Jean Wyllys (https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=35hC41G2gRw
) da minha querida amiga Drag Tchaka (http://www.youtube.com/watch?v=QZvBiUpvSOk)
dos meus amigos Fernando e Gustavo Anitelli do Teatro Mágico (http://www.youtube.com/watch?v=oAdBksLnrHw&fmt=18)
e do Deputado Carlos Giannazi (http://www.youtube.com/watch?v=DBlWoxIohqY).
Deixo também o link do meu blog (http://discursosperifericos.blogspot.com.br/)
para quem quiser conhecer mais sobre minha visão política e filosófica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário