domingo, 23 de junho de 2013

Entrevista com Dario Neto, candidato ao conselho estadual LGBT de Sao Paulo


Dario Neto é candidato ao conselho estadual LGBT de Sao Paulo e realizamos essa entrevista para que os LGBT possam conhecer um pouco mais sobre ele. 

Dário Neto é bacharel em Letras - Português pela USP, mestre em Literatura Brasileira pela USP e doutorando em Literatura Brasileira na USP. Militante desde 1998, ele começou a militar no movimento negro, migrou para o movimento estudantil e, nele, começou a participar das discussões de gênero e militância feminista para que, em 2002, se fixasse de vez no movimento LGBT onde continua até o presente momento. Já foi representante discente no Conselho Universitário da USP e em vários outros conselhos e comissões desta universidade. Foi membro do Conselho Municipal de Atenção à Diversidade Sexual de 2008 a 2012, sendo presidente deste conselho no último ano. Também é diácono da Igreja da Comunidade Metropolitana de São Paulo.

votação será realizada dia 29 de junho, na Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania, Páteo do Colégio, 148/184, de 9 hs as 19hs. O eleitores devem levar RG e Comprovante de Endereço no nome da pessoa votante.

   Qual é a função da pessoa que ocupa a vaga de conselheiro estadual LGBT de São Paulo ? O cargo é ocupado por quanto tempo ?
R: O cargo é ocupado por dois anos, sendo permitido uma única recondução. A função de um representante da sociedade civil é fazer o que se define pelo movimento como controle social, isto é, acompanhar as deliberações tiradas nas duas conferências estaduais, cobrar o poder público para que elabore e execute as propostas, denunciar situações de homofobia, sobretudo, quando a mesma tem participação de algum setor do Estado; auxiliar por meio de estudos, projetos e discussões a execução dessas ações. Obviamente, tais funções aqui estão sintetizadas, mas a leitora e o leitor poderão ver mais detalhes em http://www.justica.sp.gov.br/eleicaolgbt/downloads/Decreto%2058.527.2012.pdf


   Sendo eleito, quais seriam suas prioridades dentro do conselho ?
R: Acredito que devemos propor ações de trabalhos voltados aos segmentos mais vulneráveis, isto é, as mulheres lésbicas e mulheres travestis e transexuais e homens trans, devido não apenas à lesbofobia e transfobia, mas ao fato de que na cultura de exclusão de nossa sociedade, esses segmentos são os mais atingidos, sobretudo pelo machismo. Além desses setores, precisamos ter atenção especial para a população com deficiência física, para a comunidade LGBT de surdos, para a população negra LGBT. Também devemos propor ações de descentralização das políticas públicas voltadas para a população LGBT que hoje existem na capital, fazendo com que essas políticas possam ser acessadas pela periferia, como também por outras cidades tanto na região metropolitana, quanto no interior de São Paulo. É recorrente a exigência dos movimentos mais afastados da capital de que essas políticas possam ser disponibilizadas à população LGBT dessas cidades. Obviamente, essas ações devem ser feitas concomitantes com as ações na capital também. Enfim, a minha prioridade no Conselho é ser voz dos setores sociais mais alijados das políticas públicas. Para tanto, pretendo, com meus eleitores e com as demais pessoas interessadas, manter um diálogo contínuo de repasse tanto do que se discute no Conselho como receber deles e levar ao Conselho demandas que a população LGBT necessite que sejam encaminhadas ao poder público.


   Quais seriam seus desejos mais ousados para realizar dentro do conselho ?
R: Duas coisas são fundamentais para que um Conselho possa funcionar: a participação efetiva de seus conselheiros nas reuniões e nas ações do Conselho e o frequente diálogo com o poder público sobre as demandas já levantadas e a serem levantadas pela sociedade civil. Nesse sentido, meu desejo será o de garantir o funcionamento ativo e participativo dos seus membros - parece óbvio isso, mas não necessariamente. Meu tempo de experiências em Conselhos e Comissões tem mostrado que a eleição da sociedade civil e a indicação dos representantes do poder público não é sinônimo de participação. É comum que ao longo do período ele se esvazie e, para isso, precisa de pressão, pois um Conselho esvaziado torna-se inócuo. O diálogo é outro problema também, pois a sociedade civil tem concepções distintas do poder público e, como é recente o exercício de participação da população no governo, é comum que, em alguns temas, sejamos ignorados ou mesmo silenciados. Entendo o diálogo como o movimento de argumentar e ouvir argumentos, mas, na prática, nem sempre funciona. Em Conselhos que já participei, aprendi que devemos negociar constantemente, ter maturidade para, se tivermos que abrir mão de alguma coisa, que seja sempre com o aval da sociedade civil e nunca, nunca negociar direitos humanos fundamentais.

   Sendo eleito, quais serão as maiores dificuldades que você acha que irá enfrentar como conselheiro estadual LGBT ?
R: A maior dificuldade em um conselho é o exercício do diálogo, pois não temos esta cultura. Penso que um Conselho, para ser propositivo e ter o seu sentido de funcionamento garantido, ele não pode se transformar nem em um palco de egos, nem em um palco de guerra. Isso eu me refiro tanto à sociedade civil quanto ao poder público ali representado. Esta cultura de participação é nova em nosso país e, por isso, ela é sempre um desafio. Por isso, acredito, pela minha experiência, que a grande dificuldade será o de garantir a constância e a cultura do diálogo.

   Como você acha que se poderia atrair mais pessoas para a militância em todo País?
R: Acredito que o papel do Conselho é fazer fluir as informações. Estamos tratando da coisa pública, logo, tudo o que for debatido e feito neste espaço deve chegar ao conhecimento da população, sobretudo a população LGBT. Desse modo, a melhor forma de atrair pessoas para a militância é participá-la de tudo o que é feito e debatido no Conselho. É preciso entender que o Conselho não substitui o movimento social. O papel do Conselho é ficar de vigília enquanto o movimento está em refluxo, mas quando, por algum motivo, esse movimento toma as ruas e questiona o governo no qual o Conselho está ligado, os representantes da sociedade civil não pode inibir do forma alguma o movimento. Pode sim, muni-lo de informações ou, quando convocado, ser voz dessa demanda social naquele espaço, mas nunca, nunca, nunca querer reprimi-lo em nome de uma eleição. Outra coisa é entender que o conselheiro não está lá para representar apenas seus eleitores ou um grupo específico da sociedade, mas a população LGBT como um todo.

   A bancada evangélica a cada eleição se torna maior.  Faltaria então uma integração dos grupos LGBT de todo Brasil para eleger políticos em favor da causa LGBT ?
R: O crescimento da bancada evangélica, na minha concepção, tem que ver com as disputas eleitoreiras dos grandes partidos. À medida em que partido A e B usam de qualquer subterfúgio para derrotar seu oponente, acaba por fazer alianças com setores mais conservadores e retrógrados que já mancharam a história política do nosso país. Outro problema tem que ver com a necessidade de se fazer uma reforma política no país, pois o modelo atual de eleição que temos permite que o processo eleitoral seja feito de modo mais desonesto e pouco participativo. Quanto aos grupos LGBT, não acho que seja por falta de união - pensar que unir todo o segmento LGBT em nome de um candidato é de uma visão acrítica e perigosa, pois iremos fazer essa união a partir de quais critérios? em qual contexto? e a partir de quais forças? A causa LGBT é um tema transversal que se mistura com outros temas como a educação, saúde, cultura, trabalho, moradia, questões urbanas, rurais entre outros tantos temas. Nesse sentido, nossa luta tem de ser por uma Reforma Política de fato.

   Esse momento onde o Brasil mostra-se mais interessado pela política deve ser aproveitado pelos grupos LGBT do Brasil ?
R: Sem dúvida. E, obviamente, os grupos LGBT estão aproveitando bem. Infelizmente o projeto nominado "cura gay" foi aprovado na Comissão de Direitos Humanos e Minorias que hoje está tomada por aqueles que querem impedir os nossos direitos, mas o lado positivo disso é que aconteceu neste momento de efervescência política. Tem ocorrido inúmeras mobilizações em todo o Brasil contra esse projeto. Aqui em São Paulo, alguns dias após a aprovação, mais de dez mil pessoas foram às ruas repudiá-lo. Agora, eu também acredito que a pauta dos Direitos Humanos, da luta por justiça social tem de ser - e tem sido - do movimento LGBT também, pois somos parte dessa sociedade e lutar pela redução da passagem, bandeira inicial dessa efervescência, também tem e foi a nossa luta. Desde os primeiros atos, quando essa movimentação era tratada de modo negativa pela imprensa, a bandeira LGBT balançou nessas multidões que tomaram as ruas.

   São Paulo possui uma das maiores paradas do mundo, ou a maior, mas além de visibilidade que outros benefícios ela poderia e/ou deveria trazer para os LGBT ?
R: Não acho que seja só a visibilidade que a Parada deu a nós. A visibilidade foi o seu melhor efeito, mas a partir dessa visibilidade, outros benefícios foram alcançados. A Parada deu um gás novo para o movimento LGBT, pautou a mídia e levou o debate para as instâncias políticas do país. Também levou a discussão para a educação, para a saúde além da temática de DST/AIDS, para a cultura principalmente. Agora, uma grande contribuição que a Parada dá para a população LGBT é na esfera individual. Ela é o ponto canalizador da emancipação da consciência de culpa e de medo para um estado de alegria e de felicidade. Veja: basta que cada um lembre da primeira vez que esteve na Parada, foi algo mágico, emancipador, transformador. Por isso ela tem esse caráter de celebração, de festa. Alguém que chega nela preso pelos grilhões do moralismo e da homofobia sente-se tomado por um choque de liberdade, de pertencimento, pois abandona a consciência do eu culpado, para a consciência de um nós liberto. Você olha para aquela grande multidão e fala: porra! eu não estou só no mundo. A Parada tem o efeito de aniquilar nesse indivíduo a noção de anormalidade imposta pela sociedade. Ao ver aquela magia tomando a avenida, você se encontra. É como a história do patinho feio que descobre ao encontrar seus iguais que ele não é feio, porque ele não é um patinho, mas um cisne e, diferentemente dos seus irmãos que o rejeitaram, descobre que sabe voar. A Parada é esse momento. E isso não é pouco: é o que eu poderia chamar de uma verdadeira cura gay. Obviamente, em sentido oposto ao do projeto, é cura porque você deixa de se ver como feio, doente, anormal, e entende que a sua lógica de estar no mundo é completamente outra, isto é, completamente diferente, (nem melhor, nem pior) da lógica daqueles que, durante anos da sua vida, te chamaram de feio. Por fim, é preciso que entendam: a Parada é apenas uma das ações possíveis do movimento LGBT (e quando digo movimento, não me refiro a grupos hegemônicos, nem institucionais, mas em sentido amplo da palavra) e por isso não é ela quem vai trazer todos os benefícios, existem inúmeras outras formas e uma delas é o Conselho.

   Os fundamentalistas são os maiores adversários políticos dos LGBT. Atualmente estamos lutando com as “armas” corretas contra esse movimento que segue crescendo ?
R: Na política, você não consegue precisar o que é ou o que não é correto antes de fazer. Só é possível avaliar depois de feito. O que é possível se fazer é avaliar ações passadas tanto no Brasil como em outros países, se aproprias das experiências de outros movimentos sociais  e tentar se antecipar, sabendo que o adversário domina o jogo político e vai responder. A mobilização de rua geralmente surte efeito quando bem organizada, isto é, convocada amplamente, com um foco bem definido, com uma boa logística e com uma grande participação da população LGBT e de heterossexuais que são contrários à homofobia. Agora, tenho acompanhado debates feitos com esses fundamentalistas e percebo que a ausência de conhecimento é grande em muitos de nossos debatedores. Penso que seja preciso empoderar teólogos e teólogas inclusivas, isto é, que não fazem uma leitura distorcida do texto bíblico e que estão afinadas com o discurso do movimento social. Hoje, no Brasil temos a Igreja da Comunidade Metropolitana, cuja liderança vem dos movimentos sociais e tem propriedade teológica para refutar esses fundamentalistas. Não que o debate tenha de ser de cunho religioso, obviamente, mas quando se tem propriedade do assunto, consegue minar essas argumentações rapidamente, pois o lado de lá, teologicamente, fala muita bobagem.

   Que mensagem você deixaria para todos para finalizar ?

R: Primeiro, agradecer às pessoas que leram até aqui. Dizer que o Conselho não é solução pra nada, assim como nada é solução pra nada. Isto é, todas essas possibilidades (e o Conselho é uma delas) são instrumentos que podem responder nossas demandas de modo positivo, basta que as ocupemos, basta que participemos seja na rua, seja no voto, seja por meio de contribuições textuais, fazendo espalhar as informações para o máximo de gente possível. Quero pedir para as pessoas que são da grande São Paulo um voto de confiança em mim, indo no dia 29 de junho, na Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania, Páteo do Colégio, 148/184, votarem em mim para que eu possa estar neste Conselho. Devem levar RG e Comprovante de Endereço no nome da pessoa votante. E não apenas isso: disponho o meu contato no facebook (https://www.facebook.com/dario.neto.585), podem me adicionar (peço apenas que avisem que leram o texto para que eu saiba que não alguém que queira apenas adicionar por questões meramente quantitativas), sintam-se à vontade para conversarem comigo, questionarem, perguntarem, discordarem, enfim, dialogarem sobre o assunto. Pois, pretendo estar neste Conselho respaldado pela população LGBT (a principal beneficiada). É um trabalho voluntário, portanto, o meu ganho material é ter cada vez mais nossos direitos conquistados e saber futuramente que, por causa dele, LGBT passaram a ter uma vida mais digna. Este é o meu ganho. Deixo aqui o link do material da minha campanha (https://www.facebook.com/photo.php?fbid=579668912055845&set=a.575769909112412.1073741827.100000382258188&type=1&theater&notif_t=like) das manifestações de apoio que recebi (https://www.facebook.com/media/set/?set=a.575769909112412.1073741827.100000382258188&type=3&uploaded=1) o vídeo de apoio do Deputado Federal Jean Wyllys (https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=35hC41G2gRw ) da minha querida amiga Drag Tchaka (http://www.youtube.com/watch?v=QZvBiUpvSOk) dos meus amigos Fernando e Gustavo Anitelli do Teatro Mágico (http://www.youtube.com/watch?v=oAdBksLnrHw&fmt=18) e do Deputado Carlos Giannazi (http://www.youtube.com/watch?v=DBlWoxIohqY). Deixo também o link do meu blog (http://discursosperifericos.blogspot.com.br/) para quem quiser conhecer mais sobre minha visão política e filosófica.





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