Um bate papo com Léa Carvalho, uma professora apaixonada por livros que
resolveu se aventurar por dentro do mundo editorial. Idealista, faz parte de um
projeto editorial cujas duas principais linhas são a Diversidade Sexual e a
Diversidade Religiosa. Seu objetivo é disseminar literatura inclusiva, para que
os segmentos excluídos da sociedade possam se sentir representados e assim
contribuir para a construção de uma sociedade mais igualitária e justa.
As últimas vitórias de direitos
igualitários provenientes sempre da justiça brasileira destoam com o andamento
de leis no congresso brasileiro, na sua opinião o que os grupos LGBT poderiam
fazer para mudar esse cenário?
R:
Penso que a militância é muito solitária em suas ações. Torna-se cada
vez mais urgente o diálogo com a população LGBT. Por que as boates lotam e os
eventos da militância nem sempre? É uma questão a ser pensada... não tenho a
resposta para tua pergunta, só sei que
precisam haver estratégias para alcançar esse público que existe e não
se manifesta politicamente em prol de seus direitos.
Como você vê o avanço do fundamentalismo
religioso no Brasil? em algum momento isso já te atingiu?
R: Ando preocupadíssima com o
recrudescimento dessa moralidade fundamentalista no ambiente cristão do Brasil.
Por outro lado, é só olhar para a década de 1990 nos EUA e ver que o Brasil
está simplesmente imitando o que aconteceu por lá. Esses pastorecos da teologia
da prosperidade são tão sem originalidade que copiam tudo do que há de pior na
“religião cristã” do sul dos EUA.
Eles lutam por algo que é inevitável, a
mudança virá, a mudança já chegou. Eles estão esperneando por algo que sabem
que não podem mudar. Enquanto isso, temos que administrar esse obscurantismo
religioso ensandecido, com contrapontos
que desconstruam seus argumentos rasos e teologicamente obsoletos.
Uma empresa como a Editora Metanoia com
público alvo voltado aos LGBT já sofreu algum tipo de preconceito da parte de
possíveis patrocinadores ou parceiros comerciais?
R: Não diríamos preconceito, chamemos de
silêncios. Nem todas as portas se abrem para uma editora que versa sobre
diversidade sexual, mas nosso olhar é para os bons parceiros que conquistamos
lenta e gradualmente. Queremos fidelizá-los e mostrar que existe mercado para a
literatura LGBT.
Quais seriam as maiores dificuldades que
vocês conseguem detectar para alcançar o público LGBT?
R: O
público LGBT tem a mesma falta de cultura literária que o resto do povo
brasileiro, então são poucos os que têm o habito de ler regularmente algo que
não seja obrigatório. Por isto, contamos com o perfil empreendedor de nossos
autores que buscam dar visibilidade às suas obras e com o famoso boca a boca,
que tb nos ajuda na divulgação via redes sociais.
A educação, fator determinante para o
desenvolvimento de um País, no Brasil não é valorizada, de que maneira a Editora
Metanoia contribui para amenizar esse déficit educacional?
R: O
fato de produzirmos livros, penso que já seja algo bastante significativo. Quem
aprende a gostar de ler, se deixa abrir para um novo mundo. Creio que nossa
contribuição vem de oferecer uma temática, que pouco existe nas prateleiras das
bibliotecas e das livrarias, para pessoas saberem que não são únicas no mundo,
que existem milhares que sentem, desejam, riem e choram pelos mesmos motivos
que elas. Ter espelho na literatura é imprescindível. Sabe, penso naquele
menino ou menina, adolescentes, que numa primeira paixão homoafetiva não têm
referências, somente os absurdos xingamentos ou estereótipos; se eles lerem um
de nossos romances, vão entender que o que sentem não é anormal, abominação...
A liberdade de expressão deve ser sempre
defendida numa democracia, sob este ponto de vista você crê que os
fundamentalistas agem corretamente nessa briga contra os direitos civis LGBT?
R: Nunca, em momento nenhum da história
nenhum movimento conservador/religioso agiu democraticamente e nem
corretamente. Sua verdade é pétrea, única, nunca aberta a dialogar com outras
verdades. É só olhar para a história e constatar. Por isso tenho uma visão
progressista da vida, mesmo que eu não concorde, defendo a possibilidade de
existência daquele ponto de vista. Eles, os fundamentalistas não fazem isto,
seus olhos e ouvidos são fechados para tudo que é diverso a eles. Eles
sentem-se ameaçados pelo que é diferente deles, pois sabem que sua “moral” e
seus “preceitos” estão baseados em argumentos descartáveis e infundados,
descontextualizados da vida real.
Você crê que uma lei de criminalização da
homofobia diminuiria a violência e preconceito aos LGBT em todo Brasil?
R: Creio que a homofobia, tanto quanto o
racismo tem que ser criminalizada. Creio que uma lei sancionada coíbe sim ações
criminosas. Creio que, como o racismo, uma lei não impede ninguém de sentir ou
pensar a discriminação, mas vai fazer pessoas pensarem duas vezes antes de
agirem e, com o tempo, a situação vai se amenizando. Nunca desaparecerá, mas
ameniza.
Você acha que aprovação de uma lei em favor
da adoção de crianças por casal LGBT poderia beneficiar a sociedade brasileira?
R: Claro que sim. Qualquer lei que permita
que crianças sejam acolhidas e amadas, será de grande avanço para nossa
sociedade.
O que te inspira a lutar por um mundo mais
igualitário?
R: O
que me move é saber que estou plantando para mim mesma e para as gerações
futuras. Para mim, pois acredito que semeando o bem, a aceitação, colherei na
mesma medida; e para os que virão, quero ser aquela que fez parte da revolução
silenciosa que mudou o mundo, sim mudou o mundo
pra melhor. Somos muitos, e em alguma medida, apesar de todas as
mazelas, o mundo está melhor de se viver.
Qual seria a mensagem que se você pudesse
enviar a todos os habitantes da terra você enviaria?
R:
Pensamento, palavra e ação juntos na mesma direção trazem paz e
equilíbrio ao coração. Vamos pensar, falar e agir em amor.
www.facebook.com/metanoiaeditora
O posicionamento político de Léa Carvalho nos leva a crer que há luz no fim do túnel. A comunidade gay no Brasil não está passiva frente aos ataques homofóbicos provenientes de comunidades ditas "cristãs" que visam "salvar" vidas. Um desserviço para a população! Cidadania passou longe de quem crê ainda que os LGBT's desse país não são por merecer o respeito e os direitos igualitários que rege a nossa Constituição! Parabéns a entrevistada pela sua coragem de combater todo o tipo de discriminação. A Editora Metanóia é uma bom exemplo de ação para cidadania!
ResponderExcluirLucido, direto, objetivo, este é o pensamento talentoso da Lea Carvalho e sua Metanoia! Competência ímpar que é o que interessa. Assino embaixo tudo o que ela fala aqui, estamos lutando juntos.
ResponderExcluirBeijos,
Ricardo Aguieiras
aguieiras2002@yahoo.com.br