terça-feira, 28 de maio de 2013

Bate papo & etc: Entrevista com Léa Carvalho da editora Metanoia


Um bate papo com  Léa Carvalho, uma professora apaixonada por livros que resolveu se aventurar por dentro do mundo editorial. Idealista, faz parte de um projeto editorial cujas duas principais linhas são a Diversidade Sexual e a Diversidade Religiosa. Seu objetivo é disseminar literatura inclusiva, para que os segmentos excluídos da sociedade possam se sentir representados e assim contribuir para a construção de uma sociedade mais igualitária e justa.

As últimas vitórias de direitos igualitários provenientes sempre da justiça brasileira destoam com o andamento de leis no congresso brasileiro, na sua opinião o que os grupos LGBT poderiam fazer para mudar esse cenário?
R:  Penso que a militância é muito solitária em suas ações. Torna-se cada vez mais urgente o diálogo com a população LGBT. Por que as boates lotam e os eventos da militância nem sempre? É uma questão a ser pensada... não tenho a resposta para tua pergunta, só sei que  precisam haver estratégias para alcançar esse público que existe e não se manifesta politicamente em prol de seus direitos.

Como você vê o avanço do fundamentalismo religioso no Brasil? em algum momento isso já te atingiu?
R: Ando preocupadíssima com o recrudescimento dessa moralidade fundamentalista no ambiente cristão do Brasil. Por outro lado, é só olhar para a década de 1990 nos EUA e ver que o Brasil está simplesmente imitando o que aconteceu por lá. Esses pastorecos da teologia da prosperidade são tão sem originalidade que copiam tudo do que há de pior na “religião cristã” do sul dos EUA.
Eles lutam por algo que é inevitável, a mudança virá, a mudança já chegou. Eles estão esperneando por algo que sabem que não podem mudar. Enquanto isso, temos que administrar esse obscurantismo religioso  ensandecido, com contrapontos que desconstruam seus argumentos rasos e teologicamente obsoletos.

     Uma empresa como a Editora Metanoia com público alvo voltado aos LGBT já sofreu algum tipo de preconceito da parte de possíveis patrocinadores ou parceiros comerciais?
R: Não diríamos preconceito, chamemos de silêncios. Nem todas as portas se abrem para uma editora que versa sobre diversidade sexual, mas nosso olhar é para os bons parceiros que conquistamos lenta e gradualmente. Queremos fidelizá-los e mostrar que existe mercado para a literatura LGBT.

Quais seriam as maiores dificuldades que vocês conseguem detectar para alcançar o público LGBT? 
R:  O público LGBT tem a mesma falta de cultura literária que o resto do povo brasileiro, então são poucos os que têm o habito de ler regularmente algo que não seja obrigatório. Por isto, contamos com o perfil empreendedor de nossos autores que buscam dar visibilidade às suas obras e com o famoso boca a boca, que tb nos ajuda na divulgação via redes sociais.

      A educação, fator determinante para o desenvolvimento de um País, no Brasil não é valorizada, de que maneira a Editora Metanoia contribui para amenizar esse déficit educacional?
R:  O fato de produzirmos livros, penso que já seja algo bastante significativo. Quem aprende a gostar de ler, se deixa abrir para um novo mundo. Creio que nossa contribuição vem de oferecer uma temática, que pouco existe nas prateleiras das bibliotecas e das livrarias, para pessoas saberem que não são únicas no mundo, que existem milhares que sentem, desejam, riem e choram pelos mesmos motivos que elas. Ter espelho na literatura é imprescindível. Sabe, penso naquele menino ou menina, adolescentes, que numa primeira paixão homoafetiva não têm referências, somente os absurdos xingamentos ou estereótipos; se eles lerem um de nossos romances, vão entender que o que sentem não é anormal, abominação...

    A liberdade de expressão deve ser sempre defendida numa democracia, sob este ponto de vista você crê que os fundamentalistas agem corretamente nessa briga contra os direitos civis LGBT?
R: Nunca, em momento nenhum da história nenhum movimento conservador/religioso agiu democraticamente e nem corretamente. Sua verdade é pétrea, única, nunca aberta a dialogar com outras verdades. É só olhar para a história e constatar. Por isso tenho uma visão progressista da vida, mesmo que eu não concorde, defendo a possibilidade de existência daquele ponto de vista. Eles, os fundamentalistas não fazem isto, seus olhos e ouvidos são fechados para tudo que é diverso a eles. Eles sentem-se ameaçados pelo que é diferente deles, pois sabem que sua “moral” e seus “preceitos” estão baseados em argumentos descartáveis e infundados, descontextualizados da vida real.

    Você crê que uma lei de criminalização da homofobia diminuiria a violência e preconceito aos LGBT em todo Brasil?
R: Creio que a homofobia, tanto quanto o racismo tem que ser criminalizada. Creio que uma lei sancionada coíbe sim ações criminosas. Creio que, como o racismo, uma lei não impede ninguém de sentir ou pensar a discriminação, mas vai fazer pessoas pensarem duas vezes antes de agirem e, com o tempo, a situação vai se amenizando. Nunca desaparecerá, mas ameniza.

    Você acha que aprovação de uma lei em favor da adoção de crianças por casal LGBT poderia beneficiar a sociedade brasileira?
R: Claro que sim. Qualquer lei que permita que crianças sejam acolhidas e amadas, será de grande avanço para nossa sociedade.

      O que te inspira a lutar por um mundo mais igualitário?
R:  O que me move é saber que estou plantando para mim mesma e para as gerações futuras. Para mim, pois acredito que semeando o bem, a aceitação, colherei na mesma medida; e para os que virão, quero ser aquela que fez parte da revolução silenciosa que mudou o mundo, sim mudou o mundo  pra melhor. Somos muitos, e em alguma medida, apesar de todas as mazelas, o mundo está melhor de se viver.

Qual seria a mensagem que se você pudesse enviar a todos os habitantes da terra você enviaria?

R:  Pensamento, palavra e ação juntos na mesma direção trazem paz e equilíbrio ao coração. Vamos pensar, falar e agir em amor.




www.facebook.com/metanoiaeditora


2 comentários:

  1. O posicionamento político de Léa Carvalho nos leva a crer que há luz no fim do túnel. A comunidade gay no Brasil não está passiva frente aos ataques homofóbicos provenientes de comunidades ditas "cristãs" que visam "salvar" vidas. Um desserviço para a população! Cidadania passou longe de quem crê ainda que os LGBT's desse país não são por merecer o respeito e os direitos igualitários que rege a nossa Constituição! Parabéns a entrevistada pela sua coragem de combater todo o tipo de discriminação. A Editora Metanóia é uma bom exemplo de ação para cidadania!

    ResponderExcluir
  2. Lucido, direto, objetivo, este é o pensamento talentoso da Lea Carvalho e sua Metanoia! Competência ímpar que é o que interessa. Assino embaixo tudo o que ela fala aqui, estamos lutando juntos.
    Beijos,
    Ricardo Aguieiras
    aguieiras2002@yahoo.com.br

    ResponderExcluir