sexta-feira, 14 de junho de 2013

Colunista & etc: Aos Subversivos, análise dos protestos no Brasil. Por Joãozinho Wolff



De ontem pra hoje as imagens flagrantes da violência policial contra manifestantes e, especialmente, contra repórteres na cidade de São Paulo se espalharam pelas redes sociais.

Moro em Natal e, aqui, essas coisas acontecem o tempo todo! Num recente ato da #revoltadobusao a truculência policial foi tamanha que a própria PM publicou uma nota de desculpas. Mas no carnaval deste ano, por exemplo, PMs entraram num bloco distribuindo golpes à esmo nos foliões - as imagens estão no youtube.
Significa: vivemos numa sociedade violenta e atrasada.

A sorte de São Paulo é que, lá, existem jornalistas competentes e com colhões para publicar essas matérias. Fora das cidades de Rio de Janeiro e São Paulo a mentalidade provinciana é estarrecedora. Em Goiânia, Manaus, Porto Alegre, Cuiabá, Recife - todas essas, cidades onde eu já estive - ouve-se sempre a mesma ladainha: "- Essa aqui é uma cidade pequena, as coisas não vão melhorar. É por isso que eu nem me esforço em mudar nada."

Ora, faça-me o favor... Arranje outra desculpa porque esta é muito esfarrapada!

Repetir essa ladainha como um mantra é o que mantém essas pessoas com as almas bem pequenas. A falta de auto estima do brasileiro foi cuidadosamente construída ao longo do último século. O Brasil, no final do Império, se destacava como economia e cultura. Foi a época do Barão de Mauá - por exemplo - que construiu a maior parte das linhas férreas em território nacional. Durante a República Velha esta nação realizou grandes feitos, havia no ar a esperança de progresso. Tanto é que este termo foi foi parar no emblema da bandeira. Contudo, partir de então, a cada golpe militar a auto estima dos brasileiros foi reduzindo cada vez mais. Até chegar a esse ponto atual, em que a pasteurização da lavagem cerebral televisiva e religiosa silencia qualquer manifestação heterodoxa e condena à danação os que tiverem a audácia de questionar o status quo.

É curioso que o resultado das transformações pelas quais passou levaram o Brasil a voltar a ser o que foi muito antes de receber a Família Real: apenas uma colônia. Sim, somos uma colônia de onde se retiram minérios, plantas, animais... pessoas. Aqui nascem mentes brilhantes, que não tem a menor chance de realizarem seus potenciais - a não ser que sejam exportadas, claro.

Grande parte dos comentários tecidos em relação aos atos contra os aumentos de preço das tarifas de transporte público demonstra total falta de solidarização com a angústia enfrentada pelas pessoas que desses atos participam. Qual foi mesmo o filósofo que havia afirmado que a baixa auto estima leva ao egoísmo? Pois é.


Esse egoísmo, cunhado na forja fria da baixa auto estima, é altamente pernicioso. É ele que gera almas tão angustiadas que se rendem a qualquer um que se declare líder capaz de espantar com sua carranca os demônios de uma vida ingrata. Esse egoísmo é que afasta as pessoas do acalanto da solidariedade e as faz acreditar que o questionamento é pecado. E as faz acreditar que ousar, até mesmo na intimidade compactuada de dois homens adultos, é pecado. E também as faz acreditar ser prolixo qualquer questionamento à ordem do sistema. Em última instância: sim, a Revolta do Busão tem a mesmíssima origem da Parada Gay. 

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